quinta-feira, 26 de maio de 2011

Três dias, Quatro estações

Expurgar um sentimento
Destruir uma imagem
Abandonar a esperança
Recuperar sua vontade
Três dias em quatro estações.

Voltar a enxergar.
Saudosismo!
Buscar na felicidade pueril seu espelho.
Ser todo e uno.
Na imensidão do esquecimento mergulhar
Alinhar constelações de idéias
Saber que o infrutífero não retorna
Ter a solidão como verdade.
Nenhum pensamento deve ser linear.

domingo, 22 de maio de 2011

Eu sou a pergunta que te inquieta,
Sou a razão que te incompleta,
Sou tua felicidade e tua tristeza,
Tua saudade reprimida, teu desejo escondido,
Sou tua incerteza racional,
Teu carinho incondicional, teu querer irreal,
Sou teu passado e teu futuro,
Teu presente ausente, tua emoção incoerente,
Tua graça e teu perjúrio,
Sou tua musa e tua sina,
Teu contentamento descontente,
Teu medo e teu acalento,
Tua melhor parte, teu estandarte,
Tua falta de coragem, tua arte,
Sou teu tesouro e tua raiva,
Tua gratidão, tua madrugada,
Sou teu encanto e tua mágoa,
Teu tudo e teu nada,
Sou teu chão inseguro,
Tua impotência e teu furo,
Tua porta e teu muro,
Teu claro,
Teu escuro.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Eu me achava especial, eu nos achava especiais, mas parece que eu realmente quebrei a gente. Agora não sou mais do que uma cabeça agonizante em meio ao mar de vidas.

Todos aqui choram, todos aqui gritam, todos aqui sofrem. A pior parte do sofrimento é saber que a gente pode sair dele, mas simplesmente não queremos, impomos limites, colocamos pedras, reafirmamos erros. Se apenas tentássemos eu tenho certeza de que seriamos felizes. Se apenas tentássemos... mas nem isso.

Se ao menos tentássemos. Por que não? Por que não dar outra chance? Eu aturo, eu agüento, eu assumo, eu recebo o que for, só quero poder ser feliz de novo. Pessoas menos capazes do que nós, conseguem, o que nos impediria de conseguir. Já sei o que nos impede, nós mesmos. Eu quero e você não, quando um não quer, dois não amam. Mas a culpa não é sua, é minha, por ser o que sou, por não esquecer quem me esqueceu, por não desistir de quem já desistiu.

O que me diferencia dos outros é o nojo com que me olho. Se apenas sofresse a dor do sofrimento, mas não, eu sofro por sofrer e por não mudar, sofro por antecipação, sofro de madrugada, quando não conversamos nem mesmo conosco, sofro por ser babaca. O sofrimento não é a doença que vai me matar, mas com certeza eu morrerei com ela.

A gente podia tentar, podia mesmo, e teríamos sucesso, mas infelizmente, fazer propaganda para o que fica me corroendo é de mais para mim. Eu tentei, eu juro que tentei, mas não se pode vencer batalhas já perdidas. DROGA, se nos déssemos uma chance, mas minhas palavras são tão sem valor quanto o ar que eu respiro. Eu tentaria, eu juro que tentaria, mas se não queres tentar, quem sou eu para contradizê-la?

No meio das almas gritando, nesse rio de ferro frio, onde almas se mesclam desistindo de existir, eu me sobressai. Levantei-me da poça, separei me do joio, não por orgulho, pois meu orgulho era estar com você, mas pelo nojo, nojo este que é ver minha decadência. Quando se aceita sua própria decadência, a solidão se torna sua melhor amiga. Levantei-me, ainda gritando, ainda sofrendo, mas no meio destes eu não fico.

Lá no fundo vejo um corredor mais escuro do que este, um lugar de tristeza, solitude e desespero. Já aceitei minha decadência, quem sabe lá não caso com a solidão e reafirmo o pacto da nossa união.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sala do desespero

Nos meus olhos só tristeza
Nos seus olhos há também
Me deparo com a frieza
Asas brancas já não têm

Quem nublou esse seu mundo?
O culpado, claro, eu
Se eu pudesse num segundo
Te daria o que perdeu

Não encontro poesia
Nem tampouco inspiração
Perdurando o dia-a-dia
Vou vivendo como um cão

Me perdoe se eu errei
Não queria machucar
Não apenas te quebrei
Acabei por me matar

Nunca mais eu te terei
Como pena por pecar
A nos dois eu condenei
Sem viver e sem amar

Esse ainda não é o fim
Sua alma vou achar
Jogue o que vier em mim
Que prometo melhorar

Esta estrofe foge a regra
Da poesia que compus
A escuridão pode ser negra
Mas não se preocupe, sempre há luz.

Super Mario World

Já joguei, já morri.
Cancei de ouvir: "your princess is in another castle"
Sem Bowser nem Goomba.
Eu pularia em todas as tartarugas se fosse trazer minha Peach de volta.
É. Parece que nesse Mario ele termina sem a princesa.
Sem continue

domingo, 15 de maio de 2011

Devaneios de uma madrugada

         Um sincero desespero bate a porta, tão certo quanto o vicioso ar do quarto fechado. Não sei de onde ou porque este veio me atormentar, mas parece escolher a indefesa calada da madrugada e, qual criança assustada, eu me encolho na escuridão, envolto por tudo aquilo que me causa pavor, onde complexos tomam formas e fobias ganham largos dentes risonhos.
         A falta de um lugar para me agarrar me faz recorrer a um recurso deveras morto, retendo minha esperança, no que agora entendo por ser somente eu, não podendo depositar minha confiança em outros, sem poder conversar com o próximo sobre meus tormentos, sem um rosto amigo em meio aos que me julgam nas trevas de um quarto triste.
         A inquietação aumenta ainda mais o pavor incrustado em meu ser, repercutindo em minha alma, dando forma à rápida e curta respiração que me sufoca, pesando meus olhos, não de cansaço, mas de algo que não identifico ou classifico. O samba da apreensão perdura o tanto que lhe convém, um corpo quieto, encolhido em meio as cobertas, só, recheado de dúvidas, pensamentos, incertezas e vontades. Eu permaneço aqui no escuro solitário desse sábado, acompanhado apenas pela fria luz vermelha da televisão, indicando que ao meu capricho, basta tocar um botão e ela se liga para iluminar esse ambiente. Que bom seria se o resto do mundo fosse assim.
         Já se foi a terceira miraculosa pílula para o sono, na verdade, já fazem duas horas desde que as minúsculas pastilhas passaram pela minha garganta. O maravilhoso inibidor de ansiedade não surte efeito naqueles em que a ansiedade inibe até mesmo as idéias. Não existe nada que possa fazer para me desvencilhar dessa inquietude, na verdade, eu poderia conversar, mas não há alma bondosa disposta a me ouvir as três e meia da manhã de um sábado. Logo eu, que sempre me dispus a ajudar qualquer ser perdido em meio aos seus pensamentos noturnos, justamente por que pensava que um dia iria necessitar dessa ajuda.
         Aliás, noite passada, em mais um devaneio de madrugada, descobri que não importa como você age perante ao mundo, as coisas acontecem ou não. Não importa se você errou, você errou. Não importa se está confuso, você já está condenado. Não importa se prega a redenção, aceitando chances e chances para aqueles que erraram para com você, quando mais precisares, essas chances lhe serão negadas. Não importa se faz o bem para o mundo, o mundo o crucificará na primeira oportunidade.
         Nenhuma boa ação sairá impune. Uma vida de bondades não parece valer se um crime eclipsa tudo. Perante a face do pecado, tudo que fora bom se perde, deixando apenas a mácula da impureza estampada em seu rosto, como um gado fujão marcado a ferro. Os homens estão mais preparados a pagar um dano do que evitar um prejuízo, pois a vingança é um prazer e a gratidão um fardo. Bom seria se a indulgencia fosse garantida quando se realmente mostra arrependimento.
         São só devaneios de uma madrugada não dormida, daqui a pouco eles passam, mas todos deixam uma cicatriz em seu âmago, amargurando pouco a pouco o seu ser. Quanto mais mudamos menos sentimos. Como gostaria de voltar a ter boas sensações novamente, eu acho até que as mereço depois da tormenta que enfrentei.
         O pensamento continua seguindo seu fluxo não linear por entre as sombras na parede, não passa de escuridão, mas mesmo assim, são só devaneios de uma madrugada não dormida. O quinto ajudante desce pela minha goela tentando baixar minha resistência ao sono. As sombras cada vez mais me parecem companheiras, é triste quando aqueles de quem gostaríamos de ouvir somente a voz se negam a compartilhá-la, nem por pura misericórdia. No fim das contas não sei o que mereço, se devo me perder aqui nessa escuridão ou se deveria ser agraciado com seu indiferente "oi", tanto faz, já vivo mesmo de migalhas, mas não se preocupe, são só devaneios de uma madrugada não dormida.
         E tudo passa tão lento,o mundo, o vento, o tempo, só meus pensamentos que correm a corrida do inexistente. As sombras cada vez mais me acalentam, se aconchegando, emitindo enormes pseudopodes, tentáculos oriundos de um mundo inferior, tentando me alcançar, tentando me enlouquecer. São só devaneios de uma madrugada não dormida, eu repito para mim.
         Um sexto calmante para firmar minha base sonolenta. O Clonazepan é um forte aliado contra os fantasma da negritude solitária antes da alvorada. Agora já não entro em méritos ou deméritos do que eu discursava, já não faz sentido algum tentar discordar ou dissertar sobre algo que não muda, meu ultimo recurso era falar com você, mas parece que quem me entende está cada vez mais próximo de mim. É quase perceptível agora o jeito que a escuridão me cobre, seus milhares de braços me acolhem como uma mãe, ajeitando calmamente o filho em seu leito, sem medo, sem tristeza, sem julgamento. Poucos conseguem sentir a felicidade na tristeza de estarem solitários, eu me torno um deles ao saber que minha única amante são as trevas que acariciam meu rosto, com dedos negros e frios da mais pura e tenra calma. Talvez eu deva me entregar e realmente aceitar meu triste destino de perdição, afinal, de qualquer forma eu devo esperar, antes numa crisálida escura do que sob o sol da toscana.
         Meu corpo se levanta para alcançar o sétimo e oitavo derradeiros mosqueteiros que combaterão minha insônia, mas como a matriarca que agora é para mim, sinto a escuridão retirando esses danosos venenos e os depositando novamente no criado mudo. Ela me acolhe e me toma como um recém nascido, seu peito é quente como o sol, mas escuro como o ébano. Enquanto me afaga gentilmente, me afogo em sua vastidão. Ela se inclina e sussurra doces palavras no meu ouvido, que não poderiam provir de maneira mais relaxada.
         Calma, são só devaneios de uma madrugada...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quem me dera ter você
Caminhando sobre o mar
Um farol que não se vê
Salvo porto do amar

Luz divina sob o céu
Anjo lindo do luar
Me condena pois sou réu
Me fascina com o olhar

Eu me pego na ilusão
Do poder te segurar
Mesmo não tendo mais chão
Sem do sonho duvidar

Bela diva do vencer
Sei que devo não chorar
O que faço pra te ter
Como posso te achar

Meu caminho só tem pedras
Onde não vou tropeçar
Longe de ti nem as regras
Podem vir me segurar

Minha dama reluzente
Só tu tens meu cativar
Solto a amarra que me prende
Para então poder te amar

Alma minha sem capricho
Que me queima o esperar
Sem ter ti não sou nem bicho
Muito menos um bom par

Quão penosa é minha sina
Quão terrível meu lutar
Mas terei minha menina
Quando enfim eu me provar

No final não existe mal
Que virá nos separar
Até tudo ser real
Quando o amor se despertar

terça-feira, 10 de maio de 2011

Lamúrias de um Campeão Derrotado

A pior derrota é aquela quando não se luta. Deve-se tentar de tudo, seguir piamente seu desejo, enfrentar as probabilidades, mudar conceitos, fazer valer sua vontade. Quando um cavaleiro busca salvar a princesa, não existe dragão que se interponha, torre que se levante ou tempestade que o afugente. O nobre fidalgo pode combater todas as interpeles do destino, mas sabe que naquele quarto longínquo a princesa o espera, clamando por sua ajuda, sabendo que seu campeão faria de tudo para reavê-la. Mas a vida não é assim.

A pior derrota é aquela quando não se pode lutar. Não importa o quão forte seja seu desejo, o quão grande seu amor, o quão infinito seu ímpeto. Uma batalha impossível de lutar é uma guerra impossível de vencer. Mesmo o cavaleiro se contentando com migalhas, mesmo achando que no fim tudo irá acabar bem, mesmo sabendo que seus esforços são uma ilusão, uma luta inútil não deve ser futilmente travada. Mata-se qualquer dragão, sobe-se qualquer torre, enfrenta-se qualquer tempestade, se a princesa não aceita ser salva, não há esforço que justifique.

A pior derrota é quando já começamos derrotados.

domingo, 8 de maio de 2011

VOID

  
  
  
  
  
  
   
     
   
   
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Mash up of a Messed up Mind

I did my time and I want out
We could start over
Who needs another mess?
Cause I'm broken when I'm lonesome
And I don't feel right when you're gone away

And our lives are forever changed
We will never be the same
The more you change the less you feel
All I have to do is delay
I'm given time to evade
The end of the road is my end

I push my fingers into my eyes
It's the only thing that slowly stops the ache
So run like hell,
Cause it burns like hell
The embers never fade in your city by the lake
Believe, believe in me, believe

Living another day in disguise.
These feelings can’t be right, lend me your courage to
stand up and fight, on tonight.
It's too vague, too vague.
All the torment and the pain
Leaked through and covered me

Now I don't know what to do,
I don't know what to do
When she makes me sad.
Never let it show
The pain I've grown to know

She is everything to me
The unrequited dream
A song that no one sings
The unattainable
She's a myth that I have to believe in
All I need to make it real is one more reason
And I don't know what to do,

Letters keep me warm
Helped me through the storm
There I go again,
I mean it's so damn hard to come back
Cause I'm broken when I'm lonesome
And I don't feel right when you're gone away

And you know you're never sure
But you're sure you could be right
If you held yourself up to the light
The worst is over now and we can breathe again
I wanna hold you high, you steal my pain away
A catch in my throat
Choke,
And I don't feel like I am strong enough

Forgive me for my crimes.
Don't forget that I was so young, and so scared.
But I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me
Put me back together
The impossible is possible tonight
Believe in me as I believe in you...
Tonight

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Homem na Margem do Rio

          Ele foi um dos melhores passageiros que já tive. O homem que espera de pé, todos dias,  na outra margem do rio.
          Tocou a sineta, me entregou uma moeda, subiu a bordo e apenas se sentou. Não disse nada, não sentiu nada, não pensou nada. Seu corpo, ou melhor, seu espírito estava ali, mas simplesmente estava, não fazia nada além de existir. Sem motivação, sem forças, sem vida. O verdadeiro morto, aquele que já se fora muito antes de chegar aqui. Um dos melhores passageiros que já tive.
          Gosto de almas assim. Gosto de analisá-las, saber o que as trouxe aqui, o que as matou antes mesmo de morrerem. Quanto maior o silêncio, quanto maior o mistério, mais a viagem torna-se prazerosa, mais me apego aquela dor. Dizemos muito mais quando não falamos, e aquele homem gritava com toda a sua inércia, exclamava sua dor com a garganta de uma estátua.
          Seu olhar era vago, mas não do tipo que demonstra alguma coisa acontecendo por traz das pupilas dilatadas. Era um vazio imenso. Não olhava o horizonte, não olhava o barco, não olhava nada. Era como se dentro daquela alma não tivesse uma alma, se não conhecesse as coisas, eu diria q era apenas a casca que o envolvera em sua vida que estava perante a mim. Aquele olhar me dizia que ele realmente morrera antes de perder a vida. Algo o fizera perder realmente a vontade, mas não estava claro o que era, ele não expressava nada além do vazio. Será que ele realmente encarara o abismo? Quando se contempla o abismo por muito tempo, o abismo acaba contemplando você.
          Larguei meu remo e sentei-me de frente para aquela esfinge. Decifra-me ou devoro-te, as palavras melodiosas dançaram em minha mente. Enquanto o barco seguia vagarosamente seu curso e o homem contemplava o infinito, um leve movimento em sua garganta, imperceptível para olhos não treinados, contou mais um pouco sua historia. Ele engolira a seco, um breve subir e descer de seu pomo de adão. Algo estava entalado, algo que o perseguia até mesmo em sua morte. Um fardo tão pesado quanto este só poderia ser uma coisa. Arrependimento.
          Não era um arrependimento comum, nem daqueles que se leva para além-túmulo. Era forte, tinha o quebrado para o resto de sua existência. Que arrependimento era aquele? Era algo que deixou de dizer? De fazer? Algum assunto pendente que não pode resolver antes da cortina final? Algum ultimo desejo que não conseguiu realizar? O enigma se desdobrava como uma figura de papel, a cada aba que se abria, mais a forma original se apresentava.
          Coloquei minha máscara ao meu lado, como se o convidasse a retirar a dele e me revelar sua verdade. Os olhos dele nem se moveram, nem sequer se abalaram com as insanidades que meu rosto revelava. O homem estava quebrado e arrependido, o que mais eu poderia conseguir dali? O que mais ele iria me contar?
Almas não respiram, elas não precisam, mas quando chegam ainda estão acostumadas com o mundo lá de cima e a respiração, mesmo não necessária, se torna inevitável. Alguns ainda teimam em encher os pulmões mesmo depois de eras no Submundo, não que isso tenha algo a ver com a incógnita na minha frente, mas o inflar de seu peito, ritmado, subitamente consentiu em me ceder mais um pouco de deleite em minha investigação. Um rápido suspiro, o ultimo recurso dos desesperados. Um suspiro que somado ao peso daquele arrependimento só significava uma coisa, ele procurava redenção. Fizera o mal há alguém muito querido, muito importante. Um amor de sua vida, mulher, família, amigo. Fizera um mal que nem mesmo ele pode se perdoar, nem mesmo após terminar sua vida, talvez ele mesmo a tenha terminado tentando apagar a dor que o injuriava. Arrependimento procurando redenção de alguém a quem se ama.
          Ele era jovem, aparentava seus vinte e poucos anos. Almas também não respeitam aparência, tomam a forma que bem entenderem, a idade que desejarem, mas não quando chegam. Quando entram no meu barco são cópias escarradas do que foram na morte, meros manequins tentando se adaptar a nova ordem. Alguém tão jovem não teria filhos e, se tivesse, seriam jovens demais para darem a redenção que ele procurava. Sua frustração indicava que a redenção poderia ser encontrada, mas infelizmente não fora. Família também não fora. Pais, mães e irmãos sempre perdoam, não importa o que você faça e, se não perdoam, na morte tudo é esquecido, assim eles se enganam quanto à família. Restavam amigos e um amor.
          Nenhuma injuria justificava tal pena, nenhum pecado legitimava aquele nulo que se estampava em seus olhos, seja por amor seja por amigos. O que poderia explicar aquilo seria a soma dos dois, a soma da paixão com a amizade, a soma do amor com a cumplicidade, a soma que se entende como o verdadeiro amor. A alma gêmea que completa o todo, a metade que todo ser da superfície busca, a única coisa que supera qualquer barreira, mortal ou imortal, mundana ou divina. O olhar do jovem agora fazia sentido, toda aquela dor reprimida, toda aquela culpa, toda aquela incerteza agora finalmente se desmascaravam para mim.
          Levantei e coloquei minha máscara, voltei a guiar o barco com meu remo. Estava selado o diagnostico do que afligia aquela pobre alma, eu havia decifrado mais um passageiro. Eu encontro todo o tipo de pessoas, das ricas as pobres, das felizes as tristes, das quietas as faladeiras. Eu sou um dos poucos pontos que será verdade na existência de todas elas, e de todas que necessitam de minha travessia, somente algumas chamam minha atenção. Ele é um dos melhores passageiros que eu já tive. Sua solitude disse tudo, mesmo sem querer expressar nada. Continuei a navegar até a outra margem do rio, o jovem permaneceu da mesma maneira, fitando o nada que seu coração agora era.
          O barco atracou e o rapaz se levantou, molhou até seus joelhos no rio das almas e foi andando até a parte seca.
          – Você ainda vai encontrá-la. O amor verdadeiro sempre volta, supera qualquer obstáculo.
          Eu não costumo socializar com meus passageiros, mas este era um caso especial.
          – Como sabe disso? Como sabe o que eu fiz? Como sabe o que irá acontecer?
          A voz do jovem tremeu com o pouco de brilho que se lançou em seus olhos.
          – Apenas sei.
          – Pouco importa, eu estou morto e ela felizmente ainda vive, passarei a eternidade nesse lugar, pagando por tudo que fiz, sem nunca mais vê-la.
          – Um dia minha sineta irá tocar e uma jovem com este mesmo olhar estará esperando para eu atravessá-la para esta margem, achando que nada mais faz sentido. Nesse dia, você estará aqui para finalmente reavê-la, não importa a eternidade que se passe. O que você tem é amor verdadeiro, é a graça mais única que alguém pode receber.
          Eu empurrei o barco com o remo e naveguei rumo à longínqua margem. O jovem permanecia atônito com minhas ultimas palavras, não sabia se deixava a esperança o dominar ou se voltava a se ater no seu desespero. Uma escolha difícil para se enfrentar na eternidade.
          – Quando isso acontecerá? Como saberei? – gritou da terra seca com um leve medo.
          – Você saberá. – sussurrei – Você saberá.

552011

Aqui embaixo, o Sol não voltou a brilhar ainda, mas o dia já começa a clarear.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tempo pt1

A excitação, o começo, a novidade
Tudo simplesmente brilha
É o novo rumo que se trilha
A caminho da felicidade
Não se vale nem de tempo nem de idade
Se vale da verdade a que encara;
Do sino que se ouve, da terra que se move
Da certeza que se tem, do bem que se prove
Não há maior alegria, nada se compara
O amor se cria e o tempo então para.

O sublime, o mágico, o desenlace
O perfeito se mostra real
Capaz de superar todo e qualquer mal
Onde se apanha e se da à outra face
Onde se supera qualquer destino que se trace
Onde nada pesa mais na balança;
Não se tem dúvida, não se tem medo
Não há mistério nem segredo
Não há perjúrio ou cobrança
O amor continua e o tempo avança.



A continuação, o banal, o cotidiano
O amor naturalmente se acostuma
Não se desenvolve nem se apruma
Mas ainda é amor, sem engano
Ainda é vivo, maior que o oceano
Tornando válida sua espera;
Porém a incerteza ronda a esquina
Como dor que aparece e lancina
Mas sabendo que a tudo supera
O amor perdura e o tempo acelera.







O fim, o termino, a morte
O eternamente cai e chora
A tristeza vem sem demora
Causa no peito um grande corte
Deixando sem rumo, sem norte
Sem porto-seguro, sem escolta;
O perfeito não tem mais harmonia
O declínio sufocante na doce agonia
A prisão de amarras das quais nunca se solta
O amor enfim morre, mas o tempo não volta.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Redenção

Eu errei.
Meu erro me trouxe até aqui. Uma alma solitária vagando pelo submundo, um mero coadjuvante na roda do destino, um simples expectador sendo levado por esse barco, esperando alcançar o outro lado.
Meu erro me ensinou. Abriu meus olhos para o que realmente importava, me fez enxergar a verdadeira felicidade que procuro, me deixou certo da certeza que já possuía, mas, como todo erro, não foi piedoso.
Meu erro me machucou. Apesar de me ensinar, como um pai que encaminha um filho, como uma mãe que separa o certo do errado, como um irmão que preza pela verdade, meu erro me puniu. Como um carrasco que gira a alavanca, como um demônio que brinca com sua maldade, como um caçador que brinca com sua presa.
Meu erro me moldou. E como a faca de dois gumes que ele é, me tirou e me deu, me compôs e me perdeu, me desmontou e me teceu, me formou e me corrompeu. A redenção agora nada mais é do que uma mera meta imposta perante a mim, tão palpável quando o véu que separa a fantasia do real. Uma redenção que é um privilegio para poucos, mas que hoje, não faz mais diferença para mim.
Estou agora num barco, onde um homem que já não é mais, me levará para um lugar que não é mais, onde o tempo não é mais, onde a vida não é mais, onde eu não serei mais. Eu esperei esse tempo todo daquele lado, achando que sua doce resposta me acalmaria, que seus belos dizeres me afagariam, que sua tenra pele me amaria. Redenção é um ato grandioso de mais para se pedir. Não importa o quanto uma vida seja cercada de bem, um único ato de maldade, mesmo ele sendo arrependido pelo resto de sua pós vida, será o bastante para te condenar. A redenção é um privilegio inalcançável para aqueles que a necessitam, pois aqueles que a necessitam nunca iram procurá-la.
Eu errei, mas essa noite fiz o que achei certo. Dois erros não fazem um acerto, mas meu acerto está na minha ultima ação. Esperei por você até onde suportei, esperei por ti até onde agüentei, esperei até não poder esperar. Redenção. Hoje eu fiz tudo ficar certo, tanto pra mim quanto pra você, hoje fiz minha miséria chegar ao fim. Essa noite você deve confiar em mim assim como confio em você. Essa noite tudo fez sentido.
Essa noite meu erro importou mais do que nunca, essa noite meu erro ressoou no estalido do disparo, essa noite o sino de um barqueiro tocou.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Direto no seio, no peito, no leito. Sem o mínimo respeito, sem ser do meu jeito. Um erro mal feito, terminou o que era direito. Do fato ao ato, do grato ao rato, o amor que era nato, se tornou torto, chato. Terminou, caiu, ruiu, como março vira abril, como pode ser tão vil, brilhando no triste céu anil. Mas há de voltar, gritar, chorar, o amor retorna, assim é amar, e do cinza morto irá me salvar, no mar, no ar, no que venha a criar. Dos confins do martírio irá me tirar, no rimar, sem falar, sem olhar, sem julgar, o puro e verdadeiro amar. No amargo fim sempre tem uma mão, o real cavaleiro, seu guardião, matador da bruxa e do dragão, campeão da alma, completa a missão e com louvor retorna a nação, clamando que seu amor não é em vão, consegue da amada seu perdão e prova a todos sua paixão. Das revoltas águas da solidão à plenitude enganosa da compreensão, já naveguei tudo sem comparação sabendo que existe uma única razão. O amor sempre busca seu passageiro, a outra parte procura o inteiro, e resiste a tudo quando verdadeiro. O amor se perde, se acha, invade, mas sempre rima certo, quando encontra sua metade.